Zappa chapa

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Nos idos dos 80 os muros de Pinheiros eram pichados com um mítico “Zappa Chapa”. Naquele tempo grafite não era arte. Quem mandava era Juneca e Pessoinha. Eu sabia que Zappa era um músico, digamos, doidão mas não tinha a menor idéia do que realmente se tratava.

Conheci Zappa de verdade numa tarde adolescente qualquer de 1986. Era o que se podia chamar de tarde vazia pós-colégio. A cabeça vazia, não vou repetir o dito, entorpecida pelo prazer de não fazer nada, o mundo musical para mim até então se resumia a metaleira de Black Sabbath (com Ozzy é claro), AD/DC e medalhões do tipo Led Zeppelin e Deep Purple. O resto era coisa para moçoilas. Tinha uma certa convicção típica de um pimpão com espinhas na cara, de que nada iria além daquela repetição infinita dos três acordes e algum virtuosismo babaca.

Aí vieram os primeiras notas de I’ve been in you, tema de abertura de Sheik Yerbout, gravado numa fita K7 que meu amigo Carlos Filho me trouxe junto com outros estimuladores de apetite. Depois veio Flakes, Broken Hearts are for Assholes e daí por diante, faixa a faixa, o universo zappiano se abriu como uma iluminação.

A idiossincrasia de Zappa – aprendi essa palavra quando li na capa interna de You Are What You Is um artigo totalmente idiossincrático, recusado pela Newsweek por ser idiossincrático demais – era justamente avacalhar a sociedade norte-americana executando seu lixo cultural com perfeição extrema. Claro, a infinita genealidade de Zappa embalava tudo com experiências jazzisticas e eruditas brilhantes, afastando qualquer possibilidade do banal, mesmo em faixas com I’ve been in you.

Me lembro do sentimento de tristeza ao ver a capa de seu último CD Yellow Shark, com uma foto de Frank bastante abalado pelo câncer. É um dos meus discos preferidos, ao lado de Burnt Wenny Sandwich.

Ouço muito Zappa até hoje. Os dizeres Zappa Chapa não estão mais por aí. Diz a lenda terem sido pichados por um japonês bem louco que morava no Condomínio Ilha do Sul.

2 thoughts on “Zappa chapa

  1. Depois de lembrar desse episódio, não posso deixar de comentar as tardes de jam´s session na garagem da silvia celeste e posteriormente na alberto de faria “em obras”, com participações do varenga no baixo, zarzi na guitarra, você na guitar solo e aparições especiais de pascotto na bateria e Jefuz na guitarra, com absoluta certeza tocávamos horas com estimuladores de apetite passando por covers e funks próprios, para total desespero da vizinhança nos idos dos anos 80.

  2. Na verdade os pichadores eram rapazes, inclusive eu, de uma turma da praça P2 no Morumbi. Adoradores incondicionais do Mestre FRANK ZAPPA. Andávamos todos pelos Bairros do Morumbi, Taboão da Serra, Butantã, Pinheiros, Brooklin, Campo Belo e etc…. Escrevendo “Zappa Chappa”. Sim Chappa com 2 pes. Em alguns muros chegamos até a pintar junto uma caricatura do Mestre. Portanto não tem japonês nenhum. O pessoal da turma da P2 deve lembrar muito bm disso. Lembro de algum deles. Eram: Azeitona, Jupa Bala, Espanhol, Cabeção, Banana, Zinho, Feinho e outros tantos. Lembram do Drop no papelão e descidas no cano ???

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