Quixote chinês

foto EFE, via Portal Terra

Yang Wu vive com sua mulher Wu Ping num antigo prédio na cidade chinesa de Chongging. Há três anos resiste bravamente ao assédio de um grande empreendimento em construção. São edifícios residenciais e um centro comercial que já expulsaram outras 280 famílias. Mesmo sem água ou energia, Wu e sua família atravessam diariamente o canteiro de obras e escalam um barranco para chegar a sua casa, cercada por um grande fosso em obras.

Na China, o setor da construção é um dos motores do crescimento. Milionários surgem da noite para o dia aproveitando o dinheiro abundante fluindo para a renovação urbana chinesa. E populações inteiras são removidas sem ter muito por onde contestar. Wu não quer dinheiro, quer apenas um espaço equivalente, na área onde funcionava seu antigo restaurante.

Wu é um homem fora do tempo. Há uma resignação nos dias que correm – e na China em particular – frente a coisas entendidas como “irreversíveis”. Uma aceitação geral de que não adianta lutar contra o poder maior dos interesses econômicos. Esses adquiriram a suprema condição de realidade dos fatos. Wu, uma ex-estrela das artes marciais, com sua luta de Quixote entrará para o folclore do arrasador crescimento chinês como um louco brigando contra a realidade.
Em tempo: o governo proibiu a divulgação de notícias a seu respeito.

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