Os monges

Cerca de trinta mil monges saíram as ruas de Yangoon e Mandalay em protesto contra a junta militar que governa o país. Mianmar se assemelha a uma Cuba no meio da Ásia. Um lugar parado no tempo, povoado por gente absolutamente calorosa e pacífica. Mas a junta não se parece nada com Fidel Castro. Está bem mais para a ditadura brasileira ou argentina.

Estive em alguns monastérios em Yangoon, a capital, e na charmosa Mandalay. Uma conversa mais reservada com monges sempre leva à política. Boa parte, se não a maioria, escolhe a bata vermelha por conta dos estudos. É a maneira mais barata de frequentar uma faculdade. A tradição mianmar é uma das mais fortes do budismo. Pagodes e monastérios se espalham pelo país e, em grande medida, são sua principal atração turística. O pagode de Yangoon é um espetáculo à parte, um complexo do culto ao Buda. Como em todos os outros, sempre há uma escola ou um centro de formação religiosa. Não é por outra razão que são eles, os monges, encabeçando as manifestações pró-democracia deste fim-de-semana. Uma regra simples, mais educação, menos tolerância com ditaduras (um sujeito, sociólogo, apareceu com essa tese aqui no Brasil dia desses, foi chutado por todo lado).

No caso de Mianmar, a junta é mediocre. Abandonou a infra-estrutura do país, satanizou a China mas teve que voltar atrás e curte um nacionalismo piegas. Mianmar desfruta de um posição geo-política privilegiada desde antanhos. Saída da China para o Golfo de Bengala, também é porta de entrada para interesses indianos no continente. É portanto uma rota única. A chamada Burma Road sempre esteve no imaginário de guerreiros e comerciantes, e um destino turístico-religioso quase inexplorado. Sua população, por causa da junta, vive na pobreza e ao Buda dará.

No campo da oposição, existe uma mistificação muito grande em relação a líder Aung Sang Suu Kyi. Ganhadora do Nobel da Paz e filha de herói nacional, Suu Kyi é candidatíssima a ser uma promessa abaixo das expectativas. Atualmente ela prega o boicote comercial a Mianmar, é contrária ao acesso dos turistas ao país e pretende retomar o nome de Birmânia. Uma bobagem.

Leia mais e veja fotos sobre Mianmar abaixo:

O ICC
Myanmar ou Birmânia
A sombra das acácias
Bagan
Uma escola em Mandalay
Uma mantra para Mandalay

E um trecho do Metta Sutta entoado pelos monges durante a manifestação, no link abaixo (detalhe: não sou budista, nem de relance, mas pratico).

DISCURSO SOBRE O AMOR
(METTA SUTTA)

Todos aqueles que quiserem obter a paz devem tornarem-se integros, humildes e
capazes de se expressarem através de palavras amáveis.
Deve saber como viver uma vida simples e feliz, em plena calma, sem ser ávido e
sem se deixar arrastar pelas paixões da maioria.
E não devem cometer atos que seriam desaprovados pelos mestres.
Que todos os seres sejam felizes e saudáveis, com o coração cheio de alegria.
Que todos os seres vivam em paz e com tranqüilidade; quer sejam frágeis ou fortes,
altos ou baixos, grandes ou pequenos, visíveis ou invisíveis, estando próximo ou distante,
nascidos ou ainda por nascer. Que todos possam morar em perfeita quietude.
Que não se permita a alguém fazer mal a outras pessoas.
Que não se permita a alguém colocar em perigo a vida de outras pessoas.
Que ninguém, ofuscado pela raiva ou por uma cobiça insana, faça mal a outra pessoa.
Tal como uma mãe que ama e protege seu único filho, mesmo com risco de sua própria vida,
cultivemos o Amor Universal para oferecer a todos os seres viventes do cosmo inteiro.
Deixemos que o nosso amor percorra todo o Universo, em todas as direções.
O nosso amor não conhecerá obstáculos.
O nosso coração será absolutamente livre de rancor e de hostílidade.
Estando em pé ou caminhando, estando sentado ou deitado, desde que estejamos despertos,
manteremos a consciência do amor em nossos corações.
Esta é a mais nobre maneira de viver.
Livres da visão distorcida da avidez e dos desejos sensuais, vivendo em estado de graça
e realizando a Perfeita Compreensão, aqueles que praticarem o Amor Universal certamente
transcenderão o Nascimento e a Morte.

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