Nossa cabeça euclidiana gosta de datas redondas e ângulos retos. 100, 50, 20, 75. Datas assim ganham os nomes mais pomposos, as comemorações concorridas e os selos especiais. Para elas, estão reservados os diamantes, o ouro e, aprendo agora, o Jequitibá.
Sim, porque o Jequitibá, essa árvore exuberante, de caule corpulento, ganha as alturas desenhando no chão sua acolhedora sombra, vale mais do que o ouro e os diamantes e tem o privilégio de ser um símbolo para os que chegam aos 100 anos.
Não tenho a menor idéia quem definiu isso. Alguém acordou inspirado e não foi procurar algo quimicamente mais resistente que o diamante, agraciado para festas de 75 anos. Para tanto tempo, preferiu o frondoso Jequitibá.
Um Jequitibá pode viver cem anos. Cem anos é tempo suficiente para fazer sombra, um belo balanço, raízes fortes e porque não, deixar-se levar numa pequena deliquência e escrever: “eu amo a Maria”. E a Maria no outro dia, escrever “Maria ama João”. E no mês seguinte, um risco diagonal deixou o para trás o amor de Maria e João.
Talvez ninguém ame ninguém por décadas, mas a sombra do Jequitibá virá todos os dias para comemorar seu jubileu. O jubileu nosso de cada dia. Dias pares, impares, claros ou chuvosos, não interessa. Jubileu significa algo como “trazer de volta a liberdade”.
É o dia em que a liberdade sopra novamente, alisando as folhas das árvores sem distinguir as árvores sem folhas das árvores caídas. Os restos de árvore, a matéria orgânica e o novo alimento dos Jequitibás.
Minha avó faz 100 anos e se chama Julieta.
Caramba, emocionante descoberta esse Jubileu de Jequitibá. Parabens a Dna Julieta. Lembrei que vc ela tem uma bíblia assinada pelo Don Arns. Relíquias à sombra. Devem existir centenas delas. Deus abençoe os netos que tem vovó assim longeva.
Uma bela imagem que consegue dar a dimensão do que é fazer 100 anos.
Passava as ferias na chácara do meu avô. Lá havia um Jequitibá, que era visitado toda tarde por um pica-pau. Meu avô, cotidianamente em seu momento de varanda, sentava para ouvir o trabalho do pássaro ao entardecer. Eu, que só conhecia o pássaro pelo desenho animado e a árvore em meio aos viadutos, tive a sorte da convivência com um Jequitibá. Jequitibá é árvore sábia, esguia, de madeira nobre, alta, das mais altas da floresta… o que o torna um marco, um guia, uma referencia! A copa do jequitibá torna-se porto seguro e é recanto de ninhos, cheios de amores e de historia pra contar… Bom que os avôs escolheram esse símbolo, para viver por muito mais de cem anos!