Uma mantra para Mandalay

Mandalay está arrasada, mas a vida sempre encontra uma saída. Como uma cidade sobrevivente de um bombardeio, não há iluminação pública, a poeira engasga os geradores, os pés tropeçam no asfalto destruído.

Ainda assim a calçada, ou o que restou dela, está tomada pelas pessoas. As ruas fervilhando, tracejadas pelos bastões de luz fluorescente que se inclinam em perspectiva, pendurados nas bicicletas, organizando a feira noturna. Livros velhos, fitas K7 tocando a mísica pop de Myamnar, roupas, comidas, camisinhas.

Carros, motos, bicicletas, gentes se entrecruzam em roleta russa. As pessoas sorrindo.
No restaurante da esquina, uma televisão sintoniza a imagem da HBO roubada via satélite da Tailândia. O cachorro dorme na escada e um punhado de crianças de olhos vidrados na tela num semi-circulo irregular.

É um filme de uma violência imensa. Homens uniformizados e potentes metralhadoras fuzilam uma multidão que caminha lentamente, trôpega, por ruas desertas.

Será a multidão de Mandalay? Não, são mortos-vivos. Os mortos vivos podem ser fuzilados sem piedade.

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