Escolhendo palavras

A medida em que as obrigações aumentam, o brilho da oratória de Barack Obama diminui. Claro, ele deve fazer grandes discursos na posse e no congresso. Mas o que vemos nesse momento é um homem escolhendo palavras cuidadosamente, vacilante mesmo, ciente das dificuldades de sua inexperiência em cargos executivos.

Fosse apenas uma questão da construção do discurso, não haveriam senões. Acontece que Obama demonstra estar convencido da necessidade de cercar-se de caras conhecidas e reconhecidas nas áreas críticas do seu gabinete. É desejável, como ele mesmo disse, numa situação de crise como essa, ter por perto pessoas de qualificação e respeito nos mercados. Mas a estratégia de Obama apresenta dois riscos.

Primeiro a criação de diferentes fóruns de aconselhamento, com multiplicidade de visões e egos pode criar situações embaraçosas em pouco tempo. Quem afinal, manda em quem? Quem é mais amigo do rei? Será, sem dúvida, um desafio intelectual para o novo presidente domar a fauna de mentes brilhantes com quem ele pretende se consultar. Ele parece querer compensar sua própria experiência com o currículo alheio. Para um acadêmico, ter a sua disposição tamanha massa crítica é um prazer. Para um presidente, pode ser perda de tempo.

A segunda questão será responder aos anseios por mudança que ele incutiu na cabeça do eleitorado. É certo que o presidente-eleito vem avisando das dificuldades, conforme suas palavras, que a situação vai piorar antes de melhorar. E apenas os tolos – contra ou favor – imaginaram que com a eleição do “primeiro negro”, os EUA deixariam de ser os EUA. Ao mudar, por exemplo, o foco dos militares para o Afeganistão, os EUA continuarão impondo seus preceitos geopolíticos. E as imagens da violência da guerra de Obama não serão menos horrendas do que as das guerras de Bush.

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