É o Zeitgeist, estúpido!

Não falo uma virgula em alemão. Digo, eu saberia dizer “Ich Bin ein Berliner” se fosse o caso ou “Ich Liebe Dich” para quem merece. Minha ignorância de proporções filosóficas da lingua germânica não impede de reconhecer a beleza desses vocábulos nascidos da junção de duas ou mais palavras. São verdadeiros verbetes contendo dicionários de significados.

O alemão permite aos seus falantes expressões como o irônico morgenmuffel para dizer “pessoa mal humorada de manhã” ou o dramático weltschmerz para mencionar a “dor do mundo”. Não seria bom poder dizer que seu marido (ou mulher) é um matinochato ou aquela vizinha baixo astral sofre de um dormundor intragável?

Mas vamos lá. Zeitgest de tempos em tempo volta à moda. “Espírito (Geist) do Tempo (Zeit)”. Ungida no ventre do romantismo alemão significa, na rasa definição do Wikipedia, “o nível de avanço intelectual e cultural do mundo, em uma época”. Não foram poucos os cometadores do nosso Varonil a atribuir, por exemplo, as vitórias de Lula ao tal Zeigeist, a despeito de seu carisma insofismável e a peculiar insistência em chegar à presidência. Em 2001, o pessoal do Google espertamente criou um serviço para medir o Zeigeist em seu poderoso algorítimo de busca.

Agora nos surge essa figura de nome estranho, sorriso jocoso e fala calculada que num estalar de dedos arrisca ser presidente estadunidense. Quanta insolência! O desânimo de seu oponente frente a incrível atração de público e crítica ao jovem senador é evidente. “A mídia é pró-Obama!” reclama ele. E o sujeito coloca duzentas mil pessoas em praça pública na Alemanha. “Sua candidatura é vazia !” bradam os conselheiros republicanos. E o rapaz aparece sorridente consolidando a vantagem sobre o rival.

É óbvio que sua candidatura é precoce. É óbvio que ele não é tão liberal assim. É óbvio que ele é mesmo conservador em temas que as esquerdas que o aplaudem pelo mundo não tolerariam em sua própria seara. É óbvio que ele pode não ganhar. E, por fim, é óbvio que, ganhando, Obama não vai ser mais tão atraente assim.

Acontece que o Zeitgeist o torna quase imbatível. Talvez seja um espírito emanado da mediocridade dos anos W. Bush ou do voluntarismo esperançoso do “Yes, we can” misturado à incansável tendência ao messianismo da tradição judaico-cristã. Provavelmente é a soma de tudo isso. O Zeitgeist, estúpido!

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