Clássicos e standards

O jazz adora seus standards. Watermelon Man, So What, Round Midnight, Stella By Starlight, etc, etc. etc… se o amante do jazz regozija-se ao ouvir seu tema predileto num concerto ou mesmo na rua, na música erudita não é assim. Temas muito manjados são relegados a um segundo plano, quase sempre restritos às apresentações populares, em parques ou caminhões de gás.

O trio de Jacques Loussier veio a São Paulo imaginando poder misturar as duas coisas. Loussier é aclamado pela crítica especializada. Toca temas eruditos com um trio de jazz. Misturas assim raramente dão certo. Uma olhadela no programa revela que a escolha do repertório não poderia ser mais óbvia. O septuagenário músico francês selecionou, de Bach, o Prelúdio nº1 do Cravo Bem Temperado, a Pastoral em Dó Menor, a Ária da Suite em Ré Maior (que ele se referiu duas vezes como “muito conhecida”) e o 5º Concerto para Brandenburgo. Depois veio com o Concerto nº2 de Vivaldi, o “verão” de As Quatro Estações. Como toda regra tem excessão, havia um Erik Satie. Mas, como nem toda excessão foge à regra, foi justamente o mais conhecido dos Erik Saties, a Gymnopédia nº1. E finalizou com a eterna repetição do Bolero de Ravel. O problema não são essas peças isoladamente, são elas todas de uma vez, ainda por cima, em versão jazzística, desculpem-me os sabidos, mas é um pastiche.

Não entendi o concerto de Loussier. É um exímio pianista, nos momentos em que foi possível ouvi-lo com clareza, houve música no salão. De repente, tudo se confundia, em solos de uma planície estafante ou em arranjos jazzisticos galopando as frases lapidares de Bach. Ele não precisava disso, nem a platéia. Não pesquei muita coisa além dos olhos.

Ou minha cabeça estava no Municipal, vendo com olhos azuis Nelson Freire a tocar, como de deve, a Sonata nº 3, de Chopin.

Ouça um trecho das Variações Goldberg com Loussier.
Goldberg Variations

E a versão de Glenn Gould, que o leitor atento já escutou aqui. Compare.
Goldberg Variations

Para quem não ligou o nome a pessoa, ouça a Gymnopédia nº1, de Satie. Manjadíssimo.
Gymnopedie

Ouça o belíssimo segundo movimento – adágio – do Concerto para clarinete em La Maior, de Mozart, com Benny Goodman, um jazzmaster e a Sinfônica de Boston na regência de Charles Munch. Não inventou moda, é perfeito.
Goodman

One thought on “Clássicos e standards

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *