Bobby vs. Obama

Emilio Estevez dirigiu um filme sobre o assassinato de Robert F. Kennedy, em junho de 1968, no Hotel Ambassador em Los Angeles. Um roteiro inteligente para um elenco estrelado conduzem a trama ficcional baseada num fato real. No dia 5 de junho, pouco depois de ter levado as primárias da Califórnia abrindo caminho para ocupar o lugar que já fora de seu irmão, Bobby Kennedy foi morto por um jovem de origem palestina chamado Sirhan Sirhan. Discute-se até hoje se Sirhan era um demente ou teve a cabeça lavada na lavanderia da CIA. Uma pergunta que não quer calar, uma mais, quem se importa, numa época em que o embate pelo poder real na América do Norte tomava proporções paquistanesas.

Corta.

Interessantes são os casos de terrorismo praticado por norte-americanos. Timoty McVeigh, atiradores de escolas, o assassino de John Lennon, atentados contra presidentes, as investigações da CIA/FBI se apressam em considerar atos de tresloucados, decisões de uma única pessoa. Nunca há conspiração, nunca há um grupo revolucionário, não há ideologia na sociedade do indívidualismo. Na outra ponta, fora dos EUA, ataques desse tipo são sempre perpetrados por grupos anti-americanos, aparatos contrários ao estilo de vida, a democracia e a sociedade livre. Para isso, a Alcaida é o espectro perfeito. Uma organização virtual, dividida em células, com um comando mítico, capaz de tudo, capaz de ser culpada de tudo. Alcaida é o nome genérico da culpa.

Corta.

Na primárias americanas, ainda muito no início do processo, Obama desponta como o candidato democrata. Minha aposta, com a altivez de quem errou feio no embate “Segoléne vs. Sarkozy” (me lembrei agora de um livro, “Fischer vs. Spassky” figurando na prateleira da infância, um dia falo sobre isso) é, como dizia minha aposta, “Obama vs McCain”, vitória do segundo. Na realidade dos fatos, nada vai mudar tanto.

Corta.

O filme de Estevez tem algumas boas sacadas. Acompanhando a vida de personagens alegóricos dos tipos estadunidenses, numa mistura de simpatia e condescendência. Obama, tem um discurso muito parecido com o de Bobby Kennedy. Basicamente falam em mudança, pregam o fim da guerra e a união na diversidade. Eleito, seria o alvo perfeito para a conspiração de um homem só.

Corta.

Nos extertores da película de Estevez, ao saber do assassinato de Bobby, John Casey, o gerente do Ambassador interpretado por Anthony Hopkins, senta numa poltrona com olhar em desalento. Quase aposentado e orgulhoso de seu trabalho, Hopkins, sem abrir a boca, diz “mas por quê diabos isso foi acontecer no meu hotel?”.

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