A vida que passa

Vi tardiamente e sem ler resenhas, as “Leis da Família”, de Daniel Burman. É um grande filme feito de detalhes. Um filme universal, que só poderia acontecer na Argentina. Cada personagem é milimétricamente argentino. E a cada momento há um significado do grande tango que é ser argentino.

A maestria de Burman é justamente conciliar o universal com o demasiadamente peculiar. Se existe algo já recorrente na nova cinematografia argentina é a superação do estigma das histórias serem, antes de tudo, o destino de sua geografia. É um horizonte que os cineastas argentinos sacaram e por isso estão construíndo o melhor cinema da América Latina. (Uma pequena digressão, se permitem: minorias em geral não resistem a tentação politcamente correta. A produção artística engajada invariavelmente coloca as condições de credo, cor, gênero e afins, acima da universalidade da mensagem. Burmam é um jovem judeu de 30 e poucos anos, seus personagens são judeus e argentinos. Carregam todos os tiques de sua, digamos, condição, sem jamais se entregarem a ela).

“Leis da Família”, bem definido como uma comédia dramática, trata um tema delicado, a morte do pai. Ao mesmo tempo há a construção de uma nova figura paterna, encarnado pelo jovem advogado. Sob todos os aspectos, uma mudança geracional, porque não dizer, otimista. A vida que passa. Como em “O Quarto do Filho” de Nanni Moretti, onde a morte de um filho – um drama inversamente insuperável – a idéia da transitoriedade da vida é igualmente abordada com leveza e desprendimento. No filme de Moretti, algumas pequenas dicas de c0mo o acaso vai regendo as nossas vidas. Uma ultrapassagem que poderia ser um acidente, um convite que poderia ter evitado outro. Moretti e Burman. dão uma dimensão igualmente digna ao incômodo tema da morte em família.

Clique para ver os trailers de “Leis de Família” e de “O Quarto do Filho”

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