CPMF e a vergonha alheia

Vergonha alheia é o constrangimento de se ver alguém protagonizando uma situação igualmente constrangedora. Os leitores desse blog devem passar por isso, creio eu. Ontem, o Senado Federal promoveu uma sensação única de vergonha alheia. A inversão dos papéis desses senhores na questão da CPMF é um caso fantástico. A cara de pau e o despreendimento em desdizer tudo que haviam dito antes tomou proporções de um espetáculo tragicômico, já não bastasse a vergonha que a classe política passa aos cidadãos.

Alguém já disse que se imposto fosse bom não seria imposto. Óbvio que é um peso que atravanca a economia. Mas as discussões em torno das reformas tributárias são completamente desfocadas nessas bandas do Varonil. Não há vontade de se promover uma reforma simplificadora na arrecadação de tributos no país. Nem é fato que o empresariado quer uma reforma para valer. Seus aliados rentistas e banqueiros estão bem assim. É bem mais fácil ter alguns bons tributaristas a reduzir suas contribuições dentro de casa. Para isso a CPMF era perversa. Muito difícil de sonegar, o imposto do cheque, alegava-se, era um imposto “em cascata”. Cascata. Todo o imposto é em cascata. A lógica de formação de preços recomenda a inclusão dos impostos nos preços finais. De qualquer imposto, taxa ou contribuição.

A verdade é que a carga tributária brasileira concentra-se no consumo e só não foge dela a classe média descontada na fonte. É a maneira mais estúpida de se arrecadar. No fim das contas o sistema é complicado e injusto. Privilegia os que tem recursos para dribá-lo. É um engôdo geral.

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