Mão cheia?

A escolha da companheira de chapa de McCain foi, como disse, a carta na manga para ofuscar a repercussão do discurso de Obama. Não há dúvida de que foi uma jogada arriscada, eficiente para um objetivo de curtíssimo prazo, mas que precisa provar folego para uma campanha longa. Afora um episódio meio estranho envolvendo a governadora numa espécie de revanchismo barato com seu ex-cunhado, Sarah tem todo o resto, menos experiência. Seria mais ou menos dizer que ela é completa, menos ar-condicionado. O Alaska é frio e o calor de Washington derrete icebergs.

Vi algumas fotos dela na rede. Devia ser uma mulher bonita, mas depois de um certo tempo, todo mundo é responsável pela sua cara. Ela ficou com uma de carola bem de vida. Lembra uma dessas moças da Igreja Renascer, a do Kaká.

A aposta de McCain, que articulistas republicanos e democratas tem tratado como gamble, aposta de cassino, mira os conservadores que o consideram muito liberal. Vai agradá-los e diminuir a idade média da chapa. Mas será difícil acertar as eleitoras de Hillary, descontentes com o atropelo de Obama, se essa também era a intenção. As fãs de Hillary tenderão a vê-la como uma competidora. No caso de uma eventual vitória de McCain será a primeira mulher a concorrer à presidência, talvez em quatro anos. E a típica eleitora da senadora é liberal demais para fechar com a governadora do Alaska.

O outro lado das cartas mostra uma complicada guerra de discursos no quesito “experiência”. A campanha republicana tem um mote principal: “He’s not ready”. Agora, as duas chapas ficaram equilibradas. O rookie Obama com um vice experiente e o experiente McCain com uma vice rookie. Ao convocar alguém sem nenhuma experiência, os republicanos esperam ter poder de fogo para contra-atacar Obama. É uma engenharia complicada demais, pelo visto. E o tempo é que vai dizer se a mão de McCain estava realmente cheia.

PS. Alguns bloques conservadores aqui no Brasil bateram palmas para a escolha. Entre os comentáristas um me chamou atenção. Defendia Sarah Palin pela sua experiência em relações internacionais. O Alaska faz divisa com a Rússia. Ah bom.

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