Discurso

Esse rapaz tem o dom da fala. Seguramente houve uma dezena de redatores, debruçados sobre cada virgula de seu texto de aceitação da candidatura democrata. Mas sua capacidade de interpretação é inequívoca. Obama fez o discurso que se esperava dele, e foi além. Calculado, dividido em blocos temáticos ascendentes até o gran finale, óbvio, sobre Martin Luther King, conseguiu ao mesmo tempo responder acusações sobre sua retórica vazia – pontuando políticas a implementar -, responder emotivamente as afirmações de que seria apenas uma celebridade e trazer para si um discurso patriótico do qual era igualmente cobrado.

Obama começou a ganhar essa candidatura no discurso da última convenção, em 2004. Kerry, literalmente, tinha o carisma de um vidro de ketchup, e, de repente, surgiu ali aquele cidadão, como ele mesmo lembrou, com um nome impronunciável e uma capacidade comunicação avassaladora. Hoje, no entanto, ele conseguiu finalmente posicionar-se como um candidato real à presidência e, mais do que isso, um candidato democrata capaz de enfrentar questões que efetivamente dividem a sociedade americana: qual é o papel e o tamanho que o governo deve ter na vida dos cidadãos. É para esse debate que ele se disse preparado e para o qual desafiou John McCain. Serão 70 dias interessantes.

Citados, como não poderia deixar de ser, de saída não havia nem sinal dos Clinton. Eles cumpriram suas funções partidárias institucionais e agora tem a opção de deixá-lo seguir sozinho ou trabalharem efetivamente pela sua vitória. Difícil dizer qual a real importância da presença deles. Talvez o dia de hoje tenha efetivamente marcado uma passagem de bastão da dinastia Clinton para uma nova geração de políticos democratas, capazes de combinar o voluntarismo grassroots com uma sólida formação intelectual, fundamentalmente elitista e, porque não dizer, self-made.

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